terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Eles estão vazios

Eles são loucos. Profetizam o que são incapazes de realizar. Se afogam em palavras, mas não exemplificam. Péssimos pragmáticos. Malogrados burocratas. Querem regular a vida alheia e usurpar a autonomia de quem encontrou sua própria maneira de ser feliz, e de distribuir de graça exemplares autênticos do genérico que eles passam a vida tentando vender. Suas verdades absolutas furtam-lhes o prazer da busca e da descoberta, a satisfação de experimentar o espontâneo, o genuíno. Seu comodismo lhes conduz à reprodução rasa de modelos que um dia lhes fizeram abandonar sua essência em troca da carcaça insossa. Eles se enchem de si mesmos, mas estão vazios.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

No fim só há luz

Ser livre para ser, viver, amar, permitir. 
Sem limites. 
Sem fim. 
Viver tudo o que se é.
Ser tudo o que se quer.
Saciar o que é nosso.
Vosso, deles, e daqueles que têm fome. 
Fome de vida, de sonhos, mas principalmente de realidade. 
Viver de verdade. 
Cada momento. 
Cada pedaço. 
Intensidade. 
Sem barreiras, sem freio, sem lógica, fórmulas, regras ou preconceito. 
Sem jeito. 
Meio torto, que seja. 
Meio louco, ou por inteiro. 
Fazer sentir. 
Deixar queimar. 
Nada se controla.
No fim só há luz.
Pra além do fim, jaz um novo começo.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Anti-horário

Isso é só o vento soprando de outra direção, nada está diferente
Só uma corrente que veio em ondas um pouco mais quentes
Só um tremor de um abalo qualquer em solo vizinho
Só um caminho que logo bifurca e segue sozinho
Só um tiro cego na fronte do riso, só um desconforto
Só um aborto do que cresceu pleno, mas já nasceu morto
Só meu relógio anti-horário, que desorienta, e me movimenta pro lado contrário
É só isso.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

"Seja tratado como um animal burro por muito tempo, e é isso que você vira." 
(Trumpkin - As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Demora

Movida por planos
Esse é seu combustível
Sem metas, ela pára
Olha ao redor
E já não sabe o que faz ali
Não entende porque 
Ainda é mantida ali
"Que droga!" - ela pensa
"Deve haver tarefas outras,
Mas que demora!"


O tempo corre atravessado
As pessoas se despedem
Outras se apresentam
Com suas verdades
E várias outras mentiras
Ela sabe que deve haver 
Uma boa razão pra esse desperdício
E espera com um sorriso largo
Verdadeiro, porém cansado.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Uma dessas coisas improváveis...

Hoje eu tive um encontro tão inesperado, místico e surpreendente, que ainda estou aturdida. Ela era tão loira e tão linda! Ela continua loira (um pouco menos) e, apesar dos cabelos agora muito curtos, igualmente linda. Mas o que lhe aconteceu não é o que esperamos que aconteça a uma jovem tão loira e tão linda (e inteligente, sociável e bem sucedida profissionalmente)... ela decidiu ser freira. Freira! Não estou dizendo que garotas assim não devessem optar pela vida religiosa, mas é estranho quando a garota é sua amiga. Não que fôssemos exatamente amigas. Na verdade éramos conhecidas, colegas, mas nos víamos quase todos os dias num período da minha vida em que tudo era muito mais intenso, quando eu conhecia uma pessoa e, se a admirasse instantaneamente, já a considerava minha amiga (talvez, e provavelmente, a recíproca nem tenha sido verdadeira à época). Eu tinha dezoito. Ela, um pouco mais. A gente saiu juntas algumas vezes, viajamos juntas, cantamos juntas e demos boas e uníssonas risadas. Ela não parecia uma candidata nata a freira. Da última vez que a vi, há três anos atrás, num show de rock, num pub, apesar de seu sorriso lindo de sempre estampado no rosto, naquela noite eu sabia que ela estava triste. Hoje ela me pareceu feliz. Posso não estar certa, mas ela me pareceu amadurecida, serena... alimentada de respostas cujas perguntas me revolvem o estômago há muito tempo. Enfim, ela escolheu um caminho novo, totalmente diferente de tudo o que eu (ou mesmo ela) poderia imaginar, e largou tudo o mais. Falamos sobre isso. Falamos também sobre fé, sobre ser fiel às próprias convicções, sobre espiritualidade, sobre a vida, enquanto eu trançava os cabelos de suas irmãs na varanda. Foi rápido, mas carregado de significado. Por alguma razão, eu não queria ir embora. Não queria passar mais tanto tempo sem vê-la ou sem falar com ela. Após o que me pareceu umas duas horas, eu disse "tchau" e fui embora. Uma de suas irmãs me perguntou se eu ia ficar. Por uma fração de segundo eu quis dizer "sim! vou ficar até o natal... vou ficar pra sempre!", e então eu disse "não posso, tenho médico amanhã".

sábado, 17 de dezembro de 2011

Trégua

Antes admirados pela nossa paz
Hoje rotulados pela nossa guerra
Condenando-nos à extinção
Reduzindo-nos ao convencional
Boicotando nossa própria felicidade
Alimentando-nos de meias verdades
Maquiando o que já foi real... 

Só quero estar num lugar qualquer 
Onde isso nunca tenha existido
Onde a gente possa ser como quiser 
E nosso prazer não seja proibido
Desatar o nó que nos mantém escravos 
Da nossa própria loucura
Do ser insano que nos habita
Quero uma sombra nesse deserto 
Alguns goles de amor 
E um suspiro de vida.