segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Meu amor não é confiável

Após a tempestade, o vento sopra manso, plantando uma certeza que julguei nunca ser capaz de sentir. Agora quem duvida é você. Terei de me acostumar à fome de tudo o que nunca viverei ao seu lado, com a sede desse sentimento recém manifesto, condenado ao exílio sem a chance de ser compartilhado, perdido em algum lugar do futuro que um dia será dito passado. Num lugar reservado aos momentos não vividos e sonhos não realizados, desejos frustrados, anseios banidos, amores fracassados. Um dia veremos com clareza, cada um com sua versão consolidada do nada que nos tornamos, do silêncio ensurdecedor que nos unirá pela eternidade, porque não trocaremos essa brisa cálida pelo risco de um novo furacão. Melhor uma cicatriz que outra ferida exposta. Meu amor não é confiável. Não... Não... Não é confiável, querido. Siga sua nova vida segura. O que tenho pra nós é avassalador demais, é intenso demais, é uma entrega sem limites, é algo que você não ousará repetir por mim. Meu amor não é confiável, e eu entendo sua prudência. Não quero te machucar nem meia vez mais. Nesse campo incerto e fluido do amor não há garantias, meu bem. Há vontade, há ardor, há coragem, há certeza do que habita este coração. Mas garantia é atributo que mora pra lá do vale da razão, a mesma que me afasta de você. E assim, vamos deixando a paz criar raiz entre nós. Vamos mantendo como está. Foi uma conquista árdua, não vamos perdê-la de vista. Ela ameniza nossos rancores e conserva nossa sanidade, nos permite conviver com uma verdade que já não dói. Até porque, já houve dor o bastante para uma existência. Muitas mais nos esperam, e eu serei capaz de guardar calado todo o amor que ainda tenho pra te dar. Agora é minha vez de esperar, enquanto você respira de mim... aliviado.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Me declaro inocente

Culpada por escolher ser feliz
É o que diz seu julgamento
Porque no momento eu sou ré
Você não quer que o sol brilhe pra mim
Você me quer assim, tão opaca quanto o seu ciúme
Flor morta, sem viço e sem perfume

Condenada por uma decisão demorada

Fruto de uma dor que lhe foi invisível
Mas que rogava ser exortada
Fico agora exposta ao seu repúdio
Como o prelúdio de um desfecho mortal
Como se eu só prestasse ao seu lado, e ponto final

Não vou me deixar limitar

Não permito rótulos
Eu posso chorar enquanto minha boca sorri
Posso até me calar... e me aliar ao silêncio
Que ocupou tudo por aqui
Mas, enquanto sigo meu coração
(E apesar de entender o que sente)
Me declaro inocente

Talvez um dia você me entenda...

domingo, 8 de setembro de 2013

Grafite

A gente fica se admirando
Eu te conduzindo
Você desenhando
Palavras que meu pensamento
Em desalinho e desalento
Mal acabaram de lapidar

E é numa preguiça gostosa
Que a gente se deixa ficar
Dedos entrelaçados ao seu redor
Ditando o ritmo que eu preciso
Pra deixar riscos concisos
Traços precisos, olhos perplexos

Você exprime meu reflexo com maestria
Antes nada se via
De repente, me encontro refém
Tenho minh'alma derramada
Traduzida, esculpida, impressa
Em folha pautada

Perco a noção do tempo
Te anoiteço e logo é dia
Eu queria sempre assim
Você me traduzindo
Enquanto me seduz
Despindo meus medos
Expondo meus segredos

Sempre ao meu alcance
Ainda que eu te use
Sempre disponível
Ainda que eu abuse
E te consuma por inteiro
Você não foi o primeiro
Mas te possuo como se fosse o último

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

...

Às vezes, à noite, eu quero chorar e gritar muito alto, mas aí eu durmo e, então, faz silêncio outra vez. Sinto sua falta, e esse sentimento vai se demorar no meu peito... 

terça-feira, 30 de julho de 2013

Doce e momentâneo

Quero sorrir você
Colorir nossa amizade
De verde, que é sereno
Vermelho-cor-da-minha-vontade

Quando o sol sair
Serei comediante
E quando você dormir
A melodia no contratempo
Do seu ronco irritante

Porque eu já sei que você ronca
E eu nem ligo

Um instante a sós contigo
Talvez dois
Ou nunca mais
O resto é só depois

Quero meus pés no chão
Mas descalsos
Quero seus passos livres
E não no meu rastro

A gente já sabia
Bem antes de se conhecer
Embolados numa cama macia
Rindo por não termos nada a ver

Dois amantes sem futuro
Se demorando num quarto escuro
Ou no banco de trás
Tanto faz

Contanto que seja espontâneo
E seja leve, ainda que breve
Doce e momentâneo

sexta-feira, 5 de julho de 2013

No deserto da minha alma

Esse silêncio que faz quando você sai... Esses tantos olhares ávidos fitando o que ficou pra trás. A confusão que impera em meio a um eco mudo de gritos dissonantes. Minha voz como um baque surdo, como um alerta que urge querer consertar o que lhe parece intacto. Um soluço anônimo, um impulso despretensioso, uma nova tentativa, e então outra. Uma sequência cíclica de ritos viciados, um apego demasiado. Mas a que? Adormeço meu pranto e sonho que era só sonho, e no dia seguinte me sinto confortada por alguns instantes da paz dormida, e depois acordada. Esse silêncio que faz quando você chega... A fuga do confronto maculando minha sanidade, o interstício entre a conveniência e a verdade. Por que insiste em fechar os olhos e me deixar às cegas para morrer numa batalha sem causa? Ou, se não há mesmo nada diante de seus olhos lúcidos, talvez esteja eu sozinha no deserto da minha alma.

Acho que já não quero mais...

Queria só uma fração da sua certeza, uns gramas do seu apego, uma lasca do seu remanso, uma amostra do seu conformismo, um retalho da sua contradição, uma porção da sua intangibilidade... queria uma parte de você, mas então já não seria eu, assim tão mutante, desgarrada, impulsiva, inconformada, efusiva, sensível. Queria tantas coisas que não me pertencem, só pra me ajustar onde não me cabe! Sim, eu queria... mas acho que já não quero mais. Mais nada que me cale, que me enterre, que me ampute, que me amarre. Quero só meu coração batendo lento e rápido e lento e rápido, e sincero, e só... só isso.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Enrolado numa fita

É olhar para o céu e tudo parece bem. É uma cor que impressiona os olhos e acalma o coração. É um fim de tarde típico, uma espera. E é nos desenhos pichados no infinito, cor-de-algodão-doce, que descanso o olhar até que a luz se esvaia por completo e a escuridão se aconchegue no colo da noite. É o cenário do meu jogo sádico, porque algo tem que ser bonito aqui dentro. É o que absorvo de leve e imprimo de limpo em meio à escória do extrato de tudo o que sinto. Como pode ser tão bom, e tão sujo? Encerrado numa caixa de papel pardo, enrolado numa fita cujo nó não pode ser desatado... Tão corrosivo! Deixei meu juízo no entardecer, distraído. Ele me contou que era amarelo o poente, escorrendo doce entre a explosão de cores que envolve o meu presente. Porque o passado não cabe mais em mim e o futuro não me pertence. O que quer que eu faça, aonde quer que eu vá, me engole, me abraça, e me engole, e me abraça! Eu pedindo baixinho: me desfaça, me repete, me amanheça, me liberte.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Driving at High Speed

Impetuous (bitch)
Anxious (bitch)
Driving at high speed

Do nothing (hands tied)

Say nothing (brain fried)
No matter what you tell me
I silenced you inside

You can't handle anymore

There was a time you had control
But it's too late (you know)

Impulsive (bitch)

Seductive (bitch)
Driving at high speed

Holding myself I feel so fool

I used to get me through
I want it back (I want it back)
How can you be so cruel?

I wanna feel what I heard about

Keep your promise or let me out
By the way, just let me out

Covert (bitch)

Pervert (bitch)
Driving at high speed

I went too far (to stop)

I felt so near (to drop)
I wanna give it to me

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Aonde vão meus pés que não meu coração

Às vezes me pergunto aonde vão meus pés que não meu coração, por que esquina vagam meus pensamentos tão outros, tão soltos, que mal se sustentam. Indigentes de si mesmos, batendo à mesma porta, sonegando meu instinto e tudo o que eu sinto. Às vezes eu quero não sentir nada, só pra me opor e te fazer um favor. Mas sou feita sentimento, quão chama que nasce para queimar até a última centelha, e isso ultrapassa qualquer julgamento. Meu reflexo no espelho não me traduz por inteiro. Além de tudo o que vejo, há um mundo a ser explorado, e um desejo. Não me furto ao desapego e à toda sorte consequente. Não nasci pra ser raiz, mas folhas ao vento, porque várias sou em direções diferentes. Se tentar me parar, vou te atravessar e te fazer em pedaços. Não rotule o que eu faço, nem tente me entender, apenas me deixe ser... Me deixe... ser.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Entre um gole e outro

Ele reservou carinho em fôrmas de gelo pra servir com bebida morna entre um gole e outro de saudade. Encheu a boca de promessas que não pretendia cumprir.  Ana refletiu por um instante, sentada no sofá desbotado. Selecionou o repertório que embalaria seu sono, enquanto sentia o frescor do vinho recém-aberto e o sabor do último trago mentolado. Havia uma lascívia constrita em seu íntimo, e um certo desconforto. Meio vivo, meio morto, guardava Lúcio em seu coração, nutrido pelo brio disperso de um passado dito promissor. Ensaiava um riso que lhe conservasse o viço, apesar dos olhos nublados. Flertava com pequenos prazeres, ainda que fugazes... Pensou no que lhe contaram sobre o amor... Achou graça. E adormeceu suas lembranças sobre uma almofada.  

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Mosaico

Apenas deixe ser... acontecer... porque tudo o quanto experimenta há de ser belo, ainda que meio-amargo, como aquele chocolate que você deixa dissolver na boca só porque é saudável; como aquela palavra que te feriu um dia, só porque você permitiu, e ainda assim te manteve vivo. Porque a ira é tão revigorante quanto as paixões, e o medo impulsiona tanto quanto a vontade de fazer valer à pena. É tudo parte de um mosaico que vai se esculpindo ao longo do tempo... parte de um grande organismo. Natural como o sopro da vida e o beijo da despedida, como tudo o que sentimos nessa breve e doce existência. Existir é saborear cada pedaço, cada instante, e se entregar também aos dissabores, aos desamores, aos impulsos inexplicáveis e ao silêncio das noites insones. Se a música te inspira, aumente o volume e dance até sentir os pés cansados. Isso tudo é um grande milagre, e nós somos parte dele! ❤
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Inspiração do dia:


"Se eu pudesse trincar a terra toda

E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma cousa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se,
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo

Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja..."
_________________________________(Alberto Caiero)