quarta-feira, 17 de abril de 2013

Entre um gole e outro

Ele reservou carinho em fôrmas de gelo pra servir com bebida morna entre um gole e outro de saudade. Encheu a boca de promessas que não pretendia cumprir.  Ana refletiu por um instante, sentada no sofá desbotado. Selecionou o repertório que embalaria seu sono, enquanto sentia o frescor do vinho recém-aberto e o sabor do último trago mentolado. Havia uma lascívia constrita em seu íntimo, e um certo desconforto. Meio vivo, meio morto, guardava Lúcio em seu coração, nutrido pelo brio disperso de um passado dito promissor. Ensaiava um riso que lhe conservasse o viço, apesar dos olhos nublados. Flertava com pequenos prazeres, ainda que fugazes... Pensou no que lhe contaram sobre o amor... Achou graça. E adormeceu suas lembranças sobre uma almofada.  

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Mosaico

Apenas deixe ser... acontecer... porque tudo o quanto experimenta há de ser belo, ainda que meio-amargo, como aquele chocolate que você deixa dissolver na boca só porque é saudável; como aquela palavra que te feriu um dia, só porque você permitiu, e ainda assim te manteve vivo. Porque a ira é tão revigorante quanto as paixões, e o medo impulsiona tanto quanto a vontade de fazer valer à pena. É tudo parte de um mosaico que vai se esculpindo ao longo do tempo... parte de um grande organismo. Natural como o sopro da vida e o beijo da despedida, como tudo o que sentimos nessa breve e doce existência. Existir é saborear cada pedaço, cada instante, e se entregar também aos dissabores, aos desamores, aos impulsos inexplicáveis e ao silêncio das noites insones. Se a música te inspira, aumente o volume e dance até sentir os pés cansados. Isso tudo é um grande milagre, e nós somos parte dele! ❤
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Inspiração do dia:


"Se eu pudesse trincar a terra toda

E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma cousa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se,
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo

Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja..."
_________________________________(Alberto Caiero)