terça-feira, 30 de julho de 2013

Doce e momentâneo

Quero sorrir você
Colorir nossa amizade
De verde, que é sereno
Vermelho-cor-da-minha-vontade

Quando o sol sair
Serei comediante
E quando você dormir
A melodia no contratempo
Do seu ronco irritante

Porque eu já sei que você ronca
E eu nem ligo

Um instante a sós contigo
Talvez dois
Ou nunca mais
O resto é só depois

Quero meus pés no chão
Mas descalsos
Quero seus passos livres
E não no meu rastro

A gente já sabia
Bem antes de se conhecer
Embolados numa cama macia
Rindo por não termos nada a ver

Dois amantes sem futuro
Se demorando num quarto escuro
Ou no banco de trás
Tanto faz

Contanto que seja espontâneo
E seja leve, ainda que breve
Doce e momentâneo

sexta-feira, 5 de julho de 2013

No deserto da minha alma

Esse silêncio que faz quando você sai... Esses tantos olhares ávidos fitando o que ficou pra trás. A confusão que impera em meio a um eco mudo de gritos dissonantes. Minha voz como um baque surdo, como um alerta que urge querer consertar o que lhe parece intacto. Um soluço anônimo, um impulso despretensioso, uma nova tentativa, e então outra. Uma sequência cíclica de ritos viciados, um apego demasiado. Mas a que? Adormeço meu pranto e sonho que era só sonho, e no dia seguinte me sinto confortada por alguns instantes da paz dormida, e depois acordada. Esse silêncio que faz quando você chega... A fuga do confronto maculando minha sanidade, o interstício entre a conveniência e a verdade. Por que insiste em fechar os olhos e me deixar às cegas para morrer numa batalha sem causa? Ou, se não há mesmo nada diante de seus olhos lúcidos, talvez esteja eu sozinha no deserto da minha alma.

Acho que já não quero mais...

Queria só uma fração da sua certeza, uns gramas do seu apego, uma lasca do seu remanso, uma amostra do seu conformismo, um retalho da sua contradição, uma porção da sua intangibilidade... queria uma parte de você, mas então já não seria eu, assim tão mutante, desgarrada, impulsiva, inconformada, efusiva, sensível. Queria tantas coisas que não me pertencem, só pra me ajustar onde não me cabe! Sim, eu queria... mas acho que já não quero mais. Mais nada que me cale, que me enterre, que me ampute, que me amarre. Quero só meu coração batendo lento e rápido e lento e rápido, e sincero, e só... só isso.